sábado, 16 de fevereiro de 2013

Ideia Sustentável

Gestão de Terceiro Setor, Investimento Social Privado, Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial

Vinte coisas que aprendi em 20 anos
por admin em fevereiro 1 , 2013 às 6:50 pm | Comente aqui.
Em 2013, Ideia Sustentável comemora 20 anos. Muito bem vividos. E, principalmente, muito bem aprendidos. Nessas duas décadas, a saudável tarefa de reinventar-se quatro vezes, com quatro mudanças de linha de ação (Gestão de Terceiro Setor, Investimento Social Privado, Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial), mantendo sempre a comunicação como ponto de partida, a consultoria estratégica como serviço, e a educação/gestão de conhecimento como eixos centrais, ensinou-nos um bocado de coisa sobre o trabalho, as relações, os grandes temas profissionais, as pessoas, as empresas e a vida.
Neste, e em próximo artigo, quero compartilhar com amigos, alunos, ex-alunos, clientes, ex-clientes e parceiros, uma síntese desse aprendizado, da sabedoria construída na interação com os mais brilhantes profissionais brasileiros e as mais desafiadoras realidades e na superação das muitas barreiras que só serviram para fortalecer crenças e propósitos.
Nossa história – vale destacar – coincidiu com um momento muito rico deste país, um tempo de mudanças de paradigmas nos campos político, econômico, social e ambiental.
Para brincar com a ideia dos 20 anos, resumi tudo em breves 20 ensinamentos. Aqui vão os 10 primeiros:
(1) Comunicação é estratégia e não mera atividade tática. E isso independe do porte, da natureza e do tipo da empresa. Empresas que incorporaram essa lição estão enfrentando melhor o desafio de dialogar com seus públicos de interesse num mundo pequeno, reticular e hiperconectado. As que não incorporaram seguem sob a proteção frágil do acaso. Boa sorte a elas!
(2) Comunicação boa e eficaz pressupõe planejamento. Não importa o tamanho do que se deseja comunicar. Na maioria das empresas, o discurso do planejamento ainda é mais pródigo do que o planejamento em si, o que contribui para uma terceirização perigosa do pensamento estratégico… E também para ampliar o mercado dos gestores de crise de imagem!
(3) E por falar em crise de imagem, atuar nesta atividade durante alguns anos me ensinou muito sobre o ser humano por trás dos executivos de empresa, às vezes escondido sob um verniz de poder e indestrutibilidade que agrada aos headhunters e a essas revistas de negócio, do tipo Exame. Muitos – nem todos – tornaram-se melhores após a crise, em grande medida porque descobriram o que todo profissional mentalmente são deve descobrir um dia. Não somos o centro, não somos a medida das coisas, não estamos acima dos fatos, não sabemos mais do que ninguém, não somos melhores do que ninguém.
(4) No começo, bastava ter um produto funcional. Depois, era suficiente que este produto proporcionasse associações positivas e boas aspirações. Hoje, e cada vez mais, as pessoas querem estabelecer relações com empresas que pensam e agem como elas. Os valores ganharam status. A dimensão ética ingressou na base do branding. E ainda tem gente achando isso tudo uma bobagem. Que o acaso os proteja, enquanto andarem por aí.
(5) Organizações de Terceiro Setor fazem muita diferença a favor das pessoas e do planeta. Essa diferença é significativamente maior quanto mais bem planejadas e geridas elas são. Quando se afastam da noção de resultado, a serviço de veleidades intelectuais, devaneios políticos, soluços corporativistas ou oportunismo financeiro, tornam-se irrelevantes, perdem o sentido e até mesmo a legitimidade para existir. As melhores organizações que conheci foram justamente as que nunca perderam a noção de que existem para tentar solucionar um problema social.
(6) Não existe nenhuma incompatibilidade entre as ferramentas de gestão e a atividade socioambiental. As ferramentas podem ser adequadas às finalidades das organizações de terceiro setor. E as organizações podem e devem se adaptar aos benefícios trazidos por ferramentas como planejamento, comunicação e avaliação de resultados. Desconfio dos que, movidos por retórica ideológica, acham que o uso de ferramentas de gestão descaracteriza uma organização. Em minha experiência, reuni pelo menos um milhar de exemplos de organizações que, com a adoção inteligente de ferramentas de gestão, tornaram-se melhores, passaram a atender mais gente e com mais qualidade, a cumprir mais dignamente sua missão.
(7) Um dos melhores legados do boom do Terceiro Setor no início dos anos 1990 – que acompanhei de muito perto, como protagonista – foi a formação de uma geração de líderes e empreendedores sociais cuja ação, silenciosa mas eficaz, resultou na melhoria da qualidade de vida de milhões de brasileiros.  Nem os governos nem as empresas produziram, com tanta abundância, capital humano mais íntegro e com maior poder transformador.
(8) O conhecimento não tem mais dono. Não é mais monopólio de instituições, nem mesmo acadêmicas, o que definitivamente altera relações antigas de poder. Com a internet, um gari pode acessar todo o acervo da biblioteca de Londres no seu celular pré-pago. Um estudante de escola pública do Brasil pode assistir às aulas de Harvard. Você, como eu, deve conhecer pelo menos uma instituição perdida no autoengano de achar que retém conhecimento ou uma experiência única, que ninguém mais possui. Este tipo de organização apoia-se no nome e na história para justificar sua existência. Defende agendas pessoais, atende a egos fora de controle. Tem enorme dificuldade em fazer conexão e participar dos novos arranjos de cocriação de conhecimento porque, para ela, as relações não são horizontais, mas verticais. Este tipo de organização já morreu e não sabe, precisa apenas ser enterrada.
(9) Quando Ideia Sustentável nasceu, a comunicação era analógica. A internet era um experimento científico. E a teoria de comunicação baseava-se na ideia de um emissor, um receptor, um canal, uma mensagem e alguns ruídos. O mundo hoje é digital, a tecnologia da internet popularizou-se, e a teoria da comunicação – bem… – sofreu uma profunda transformação. Receptor é também emissor, os canais são múltiplos, de várias mãos e custam pouco, as mensagens se espalham na forma de texto e imagem integrados e com velocidade estonteante, e os ruídos estão absolutamente fora de controle. Os artigos que escrevia sobre sustentabilidade para a Gazeta Mercantil (2006 a 2010) eram vistos por centenas de pessoas. E os comentários sobre responsabilidade Social na TV Cultura (2004-2005), por alguns milhares de pessoas. Com as redes sociais, nossos conteúdos são acessados por centenas de milhares de pessoas que os comentam, contestam, criticam, corrigem, aperfeiçoam, curtem e compartilham. Isso não é mudança, mas revolução. Que bom que estamos podendo viver tudo isso.
(10) Minha longa experiência com sustentabilidade me levou a crer que, a despeito das políticas, das ferramentas e dos indicadores, e além das vontades abstratas das corporações, o que faz mesmo a diferença para a inserção deste conceito no negócio é a existência de pessoas, nas empresas, que acreditam e trabalham apaixonadamente pelo tema. Pessoas são fundamentais, o resto é detalhe. Não fosse a crença de indivíduos sensíveis ao tema não teríamos feito, na Ideia Sustentável, a décima parte do que fizemos, o que inclui aí, apenas para lembrar três grandes ações visionárias, o Fórum Permanente do Terceiro Setor (1998-2004), a revista Ideia Sustentável (desde 2005) e a Plataforma Liderança Sustentável (desde 2011).

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